Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Contos que conto By Sulla Mino --> Abismo do amor




Sinto uma dor insustentável.  Feito um abismo que me corta o corpo ao cair lentamente. Partes por partes, feito pétalas se soltando. E vou caindo, feito onda limpando-me os pés ou garoa que respinga na janela do quarto. Ou isto ou nada. Vou descendo feito medo na cortina da sala de estar... Despedaçando-me. 

E giro, como gira o mundo do lado de fora, sem falhas e sem pausas. Estou plena deste jeito.  Verdadeira  como uma fotografia bem tirada. Tenho asas e posso ser colorida, preto e branco, só não posso voar. Apenas o tom que desejar e eu desejo cinza. Sou o amor. Amor? Pensando estar caindo nos braços afáveis do rei, da minha alma gêmea. 

Destino! Este sim faz parte do meu trecho por aqui, cabível diria. E dói feito esta saudade dentro do peito, apertando-me por inteira, sem pausas para enxugar a lágrima que escorre na bochecha vagarosamente. Apenas sentir faz parte de mim, este sentir que me corta e que já nem sei se gosto de sentir tantas lembranças assim. O poço das minhas delícias me engoliu. Não pulei, eu não queria conhecer segredo nenhum na escuridão que habita no poço no fundo do quintal. Parto com todos os medos que me cabem, ardendo-me a  pele... E o rasgo é largo na minh’alma. E ela chora. 

E seus gritos ecoam nas paredes deste calabouço infinito e amargo. Meu sopro é feroz na tentativa de expulsar o veneno de mim, sair feito teia forte e conseguir segurar na beirada dos tijolos gastos deste labirinto, talvez sem um fim... Talvez sem beira. O silêncio já é dono agora. Teias seguram não existem. O corpo ainda lentamente se vai, feito vento que sopra forte e tempestade repentina. Seria mesmo a morte agora? Ela que tanto eu temia e agora estou envolvida em teu seio. Isto por que blasfemei o diabo? Sufoco meu. Agora apenas o pó de mim sujando o espelho quebrado que segurava em minhas mãos ensanguentadas. A dor é insustentável ainda na alma. 

E me lambuzando com tintas coloridas para enganar a foice afiada não foi o bastante. O profundo mereço. Que me come e me cospe inteira.  Duzentos anos não bastam para a dor transmutar. E pela pequena brecha que vejo um pedaço azul do céu, mando um beijo para Deus enquanto vou fechando os olhos meigos de menina. 

Estou presa neste cofre de fantasias que se chama amor.

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