Pássaro Negro
Um grito apenas basta dentro de mim. Um grito bobo e
infantil. Feito uma donzela jogando as pétalas fora. Grito compulsivamente, na
tentativa de mais beijos, de mais gestos suaves que deslizem no meu corpo. E
sinto que minha vida se encontra embaraçada, que os fios das minhas delícias
estão soltos no vento que percorre no lado de fora. Fora de mim. Estou pronta
para guerrear, acender o pavio de desencontros e de goles de vinhos baratos.
Grito! Um grito torto e agudo dentro do peito. Conseguirei derrubar máquinas
estranhas e tanques de guerra? E nos instantes em que acho que estou livre,
fecho meus olhos para não encarar os arqueiros... Entre eles pode haver um
cupido e não estou pronta para morrer de amor. Sigo ao breu. Sigo no chão
cortante, sujando meu vestido branco. E sangrando no coração... Sigo cuspindo
fogo nas farpas, e cortando cabeças de zumbis perdidos na própria insônia.
Ou
seria meu pesadelo afinal? Grito. Na esperança de acordar desta ronda que me cerca,
desta luta que não é minha, neste mundo em que não nasci. E me sufoco no meu
grito de socorro! Feito cócegas na barriga, feito cheiro de tinta fresca nas
narinas. Não quero gritos fadigados e mentirosos, quero a loucura que me torna
mulher, quero nadar no rio de água doce e acariciar um homem nu. Prometo a
partir daí silêncio. Um silêncio imutável!
Não mais abraçarei guerras que não
me pertencem, bocas que não posso beijar.
Nem cantarei louvores de adeus, nem tampouco uma piscadela ao caçador.
Esquecerei poesias e serei fera. Serei vento perdido no labirinto do deserto,
serei gota inflamada na dor.
Desespero e mata fechada. Tornar-me-ei pássaro
negro e voarei por aí!
Um comentário:
Excelente a combinação de palavras Sulla! Torne-se o pássaro negro e deixe a imaginação falar mais alto!!!
Postar um comentário