As frestas me
caem bem. Amoleço o corpo para passar nas brechas mais apertadas. Vou à procura
de muros altos, gostaria de conversar mais de perto com a lua. A lua brilha
intensa para mim lá no céu. Saio à procura de “miaus”, de brincadeiras que me
fazem cair nas latas de lixo da rua imunda. Dói estar só.
E acordar todos os
dias com gosto de solidão na boca, me corta. Corta-me em cacos pequenos. E
sinto que entre meus afiados dentes, está a prova de que noite passada não me
comportei bem. E o resto de sangue no canto da boa, me soa algo que realmente
não gostaria de lembrar. Ainda me pertence às tentativas de pertencer algum
lugar, talvez Roma me acalme. E receber moedas de esmolas ainda não faz parte
de mim.
Mesmo que eu cante ou dance feito macaco de circo, ainda assim não
faria bem, continuaria tola. Mansa... Uma mansa e pequenina. E os ratos não me
incomodam mais, mesmo que se vistam de soldados de guerra, ou mesmo que fumem
um cigarro especial, ainda assim não seria suficiente para chamar minha
atenção. Continuo a procura de “miaus” nas noites insanas para o meu prazer. E
como se o mundo fosse acabar em minha volta, corro pelo quarteirão a procura de
vagalumes. Luzes incandescentes que me confortam os olhos, gravetos que se
prendem a mim... E a dor se torna ainda
maior.
Como se amigos se espalhassem por aí em busca de comida velha, restos
vindos dos restaurantes da redondeza. Ou apenas fogem de mim. Por isto o
silêncio me cai bem. E vou me sentindo de tantas formais em minhas sete vidas.
Ora vou um zumbi perdido no escuro, ora sou uma rosa nascendo entre as pedras
polidas da calçada. E outros sons e vozes me chamam a atenção, parecem zumbidos
na orelha. E a sensação de não estar mais dentro de mim tão viva assim, me
eternizo na conversa informal com a noite que me abraça. E me sinto como se
estivesse sendo punida.
De alguma forma por ter derramado a soda quente no
chão... No girar do pescoço da coruja que sonda noite adentro e em todas as
outras noites. E as estrelas ecoam notas, uma letra sertaneja que fala de amor.
Sou negra de olhos grandes e verdes. E todo este turbilhão de coisas, este
saltitar por aí nos telhados da vida, seria mais um sonho estranho nos meus
cochilos da tarde?
A felina que se esconde em mim? Esta gatuna que me fere na
“maldição do seu azar”, que me envenena com espinhas velhas de peixe?
Ou seu.... Cio que me entorpece? Ou seria
apenas mais um pulo da gata?
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