
- Obrigada pela boa notícia Sr. Dilan, vai fazê-lo dizer onde minha filha está?
- Agora mesmo Senhora, agora mesmo...
Onofre, o tal sequestrador, com uma enorme cicatriz de infância na face, ar de terror absoluto, não dizia uma palavra sequer.
A sala pequena da delegacia guardava o silêncio somente, os policiais e os detetives tentavam de todas as formas arrancar do maldito homem o lugar onde Yane se encontrava.
Nem com temor de palavras, arma na cabeça ou pequenas torturas, o forasteiro não correspondia às expectativas, todos estavam envolvidos no seu jogo sujo, malandragem, sua brincadeira entre a vida e morte.
O celeiro cruel ainda lá no meio da floresta, o comparça de Onofre já tinha passado pela fronteira, uma fuga no meio da noite, enquantoYane ainda esculpida no terror, as letras garranchadas revelando seus dias e suas noites. No lado de fora, já noite, somente grilos, sapos fazendo serenatas, mosquitos e vaga-lumes enfeitando a noite clara de lua cheia. Nenhum lobisomem para espalhar terror aos homens que se encontram na cozinha, deliciando um bom Rum e mastigando amendoins. Nenhum caçador com sede em matar, animal com fome ou uma simples lanterna de algum policial noturno. Tudo igual, a mesma dor ainda gritando em silêncio.
A ponta do lápis está pouca, gasta demais para Yane finalizar seu livro, isto mesmo, já tinha páginas e páginas, frente e verso como ela sempre um dia sonhou, uma autobiografia com um final com seu próprio fim.
Uma semana se passa rápida diante dos olhos, a fome muita, a sede farta, o sangue já não fazia efeito ao beber e o pensamento de Yane era de somente poder ser encontrada e pelo menos o mundo poder saber o que realmente acontece em momentos fora da nossa realidade, porque aquilo tudo ali não era real, nem um pesadelo.
O dia amanheceu do lado de fora da cabana, os pássaros cantavam, as flores se abriam, era primavera... O caixote vazio, o lápis sem ponta, o livro no alto da prateleira, Yane jogada no chão úmido, o sol daquela manhã adentrando no quarto pela minúscula brecha de uma rachadura na parede, os olhos fechados, nenhuma evidência de vida. Tudo paralisado no tempo, o corpo estava pronto para o velório.
Onofre, o sequestrador, fora encontrado na cela com um corte profundo na garganta, um breve suicídio. Registraram esta cena na antiga delegacia de Cecília, uma cidadezinha no interior do Estado.
O livro com o título “Yane, livro e morte” fora entregue a D. Lady e as fotografias que os peritos tiraram da cabana seriam utilizadas. “A cabana, a floresta, o drama, o sangue no corpo, marcas, tempo, infância, amor, tortura, ódio, prazer, seqüestro, medo, choro e aniversário, nada valem sem vida... Suas últimas palavras escritas.
D. Lady abraça William, um abraço apertado com um choro incontrolável, os detetives lacram o cativeiro.
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