Ele
morre todo dia.
Aos
pouquinhos e bem devagar.
Faltam-lhe
flores cheirosas no jarro e
roupas
engomadas na gaveta.
Ele
morre nas noites também.
Nas
noites de céu limpo e bem estrelado.
Pela
falta de cigarras nos caules das árvores e
Rãs
novas nas paredes do poço.
Ele
morre no sábado de sol farto.
Sábado
de feriado ou de aleluia.
Pela
falta de semente no solo fértil e
A falta
de chuva no chão árido de seu quintal.
Ele
morre. Ele morre.
Isto
é o que importa neste nascer e morrer.
Deste
viver constante, deste continuar estressante.
Desta
travessia na ponte das ilusões.
Ele
morre por hoje e
Por
ontem e amanhã um pouco mais.
Por
falta de insônia, silêncio.
Por
falta de amor, por causa da fome, da guerra.
Ele
morre cedo. Morre tarde.
E
o pó do seu corpo corre com o vento lá fora.
Faz
redemoinho na entrada da rua,
Feito
letras soltas sendo atiradas de um lado para o outro.
E
a ventania cessa. Ele morre.
Mas,
as lagartas se acumulam no chão.
A
primavera aponta na quina da varanda
O
cinza já não é tão cinza. Sei que as cores não virão.
Ele
morre enquanto nascem borboletas no jardim.
E
morrer já é suficiente por um dia. Eu fico triste.
E sinto
suas asas batendo forte, indo além do muro pichado.
Sinto
o beijo fresco na minha nuca, despedindo de mim.
Surgindo
noutro lugar...
Feito
passado errante!
Quero
ir também. Ele pode. Por que eu não?
Posso
correr, rastejar... Já que não posso amar de novo,
posso
me costurar por dentro. Enquanto ele morre,
posso
ser anjo, mesmo com asas quebradas.
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