Levantar de um tombo falso,
Chorar não mudará o rumo.
A insônia voltou
Estou mergulhada no medo,
novamente trancada na insônia,
laços de palavras que me prendem,
amarram meu silêncio,
retardo...
Fugitiva da vida estou de novo,
ordeno meu fingir e ele não obedece,
estou maltratando a solidão.
Meu corpo covarde desmancha na noite,
deito no leito de ilusão
e penso-te,
a taça de vinho no canto da sala,
a caneta cai da minha mão,
choro, choro, choro...
Vou caminhando pelo corredor escuro,
desmaio...
Ouço distante somente um bom dia,
já é manhã,
finjo que nada aconteceu.
Por Sulla Mino
Arte
Aflito-me em teu corpo sem quê,
nem por quê,
sinto teu gosto, sonhando talvez,
como calafrios e vultos de prazer...
Deito-me em teu pensamento,
talvez com medo de acordar só
estando bem acompanhada...
Não pode ser sonho,
quando pinto teu rosto na minha tela
ou quando molho meus lábios em teu suor...
Estou amando ou brincando de arte!
Meu ego louco,
pintar um quadro que nunca vai
para a parede,
um amor que nunca sai da cama,
uma frase que nunca sai da boca,
tento enganar a noite,
agora já dia,
volto e cochilo.
Por Sulla Mino
À Lúcia C. Tatsukawa
Arco-íris
Viajar em suas linhas como
nas do trem,
“voar” no céu azul que aparece em
sua volta, como em volta de
torres e arranha-céus ou
simplesmente
apreciar como apreciamos Eiffel.
Procurar um pote de ouro ou
duendes verdes no seu fim,
afinal o que tem no final do
arco-íris?
Imaginar é o segredo, criar
a própria arte na dúvida.
Ilusões de uma nova era,
de um novo tempo,
de um habitat oculto,
de promessas, riquezas,
moedas, ouro...
Apreciar somente como
um nudismo barato e
hipocrisia moderna.
O nosso arco-íris de hoje
não se pode escrever, apenas
descrever suas cores e
revelar que existe no seu fim
uma simples letra s.
O Gato e o galo
Um gato, ao capturar um galo, ficou imaginando como achar uma desculpa, qualquer que fosse, para justificar o seu desejo de devorá-lo.
Acusou ele então de causar aborrecimentos aos homens, já que cantava à noite e não deixava ninguém dormir.
O galo se defendeu dizendo que fazia isso em benefício dos homens, e assim eles podiam acordar cedo para não perder a hora do trabalho.
O gato respondeu; "Apesar de você ter uma boa desculpa eu não posso ficar sem jantar." E assim comeu o galo.
Moral da História:
Quem é mau caráter, sempre vai achar uma desculpa para tornar legítimas suas ações.
Contos que conto... Alina
Alina caminha na pequena rua de paralelepípedos próxima a sua casa, com um vestido longo, pés descalços e seu pequeno ursinho tufo na mão. Saltitante, cantarolando uma cantiga, seguia em direção a pequena loja de conveniências da sua mãe e ao chegar se depara com a porta de vidro fechada e um aviso: “Fechado por motivo de falecimento”, Alina ficou sem entender porque não lembrava quem havia morrido na família, resolve ir até a sua casa.
Novamente saltitando pelas ruelas do seu bairro e chegando a sua casa não consegue entrar, portas e janelas fechadas, da à volta pela rua de cima, em vão, tudo trancado...
Caminha, caminha, ainda saltitante pelos becos e ruas estreitas, as lojas fechadas, tudo deserto, ninguém nas ruas ou calçadas, somente Alina, como se fosse a única pessoa no bairro, já escurecia, começa um vento brando, Alina se pos a chorar, como fazer se não consegue entrar em casa? Como não chorar se não encontra sua mãe? Quanto mais Alina chorava, mais aquele bairro ficava nebuloso, o céu fechava...
Já é noite, Alina perambula pelas ruas sem saber o que fazer, com fome e sede, com apenas treze anos começa a sentir o medo de estar só, sente falta de sua irmã Lita de sete anos, de sua mãe, seu pai, dos vizinhos e amigos, da escola...
Mais uma volta pelo quarteirão até chegar na casa de Dona Nana, uma velha asquerosa que sabe de tudo um pouco que acontece na vizinhança, bate em sua porta e grita pelo seu nome em vão.
Será que todos estão de luto por causa da morte que houve? Alina se perguntava, sentou na beira da calçada e se pos novamente a chorar e a pensar nas pessoas, nas coisas boas e ruins que já fez em sua vida, pouca vida...Aceitando seu estado, Pegou no sono.
Pela manhã se assusta com o sol no rosto, com o barulho da buzina de um carro e a sua frente o vai e vem de pessoas, as lojas abertas, o movimento comum no bairro, crianças indo a escola, sua irmã com a bicicleta nova na calçada brincando, Dona Nana na janela conferindo as últimas novidades, Sr Élson vendendo os primeiros pães, seu pai sendo levado algemado para o Distrito Policial, só não conseguia ver sua mãe...
Sai correndo, ninguém notava a sua presença mesmo, saiu como uma louca, com o seu tufo na mão, com os pés sujos por estar descalça, correu por entre tudo aquilo que acontecia na sua frente...
Ao chegar no bosque da saudade, cemitério da cidade, a vista ao longe sua mãe sentada na grama chorando... Foi se aproximando e mesmo pisando nos galhos secos das árvores caídos no chão, fazendo ruídos e estalos, sua mãe não notou sua presença e somente chorava e gritava: - Ele não podia ter feito isso!
Alina pode ler na lapide que sua mãe acariciava no momento...
“Minha filha querida Alina”.
Conto apresentado no programa "Entre no Clima", na Tv a Cabo de Mossoró, no quadro "Contos Fantásticos", Narração: Sulla Mino Ilustração: Neto Silva.
"O ser humano vivencia a si mesmo, seus pensamentos como algo separado do resto do
universo - numa espécie de ilusão de ótica de sua consciência. E essa ilusão é uma espécie
de prisão que nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto por pessoas mais
próximas. Nossa principal tarefa é a de nos livrarmos dessa prisão, ampliando o nosso círculo
de compaixão, para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza.
Ninguém conseguirá alcançar completamente esse objetivo, mas lutar pela sua realização já é
por si só parte de nossa liberação e o alicerce de nossa segurança interior".
- Albert Einstein
Um comentário:
que pena...
Henrique
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