Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Por sulla Mino ... Contos que conto ... CARMELITA

Carmelita de sessenta e cinco anos era uma senhora com um vigor de uma de trinta, entediada com o marido, com o crochê, resolveu se inscrever numa academia de dança no mesmo bairro em que morava, no interior de Minas Gerais.

Gildoaldo de sessenta e sete anos, aposentado, adorava a vidinha que levava ao lado de sua esposa e claro, não dispensava um jogo de damas na praça com os amigos e nas quartas-feiras filme na tv, eles levavam petiscos e sempre alguma bebida...

Carmelita pegava muito no pé de Gildoaldo, era ranzinza, reclamava de tudo que ele fazia, pior que sempre foi assim, desde o tempo em que namoravam.

Sexta-feira... Dia de passar o batom vermelho, o vestido de seda e o belo salto, aquele perfume doce e rouge para disfarçar a palidez, quando saía na rua chamava atenção de todos, as pessoas no bairro a chamavam de “velha assanhada”, ela deixava o marido em casa sozinho e saía daquele jeito bem extravasada.

Quando chegava na academia, muito empolgada com a aula de bolero, ela gostava muito. Era uma aluna aplicada, mais o que realmente ela visava era o professor Fernando, um belo moço de trinta anos, era atencioso e apreciava o jeito de Carmelita, pelo empenho e dedicação. Carmelita sempre sorridente e assanhada, não perdia uma aula sequer.

Quando voltada pra casa, chegava já reclamando com Gildoaldo, com o barulho da tv ligada, dos pés na mesinha e do cheiro de pipoca que vinha da cozinha.

- Boa noite Carmelita! Precisava de um batom tão forte para uma aula de dança?

- Não to para brincadeiras Gildo...Respondia irada da vida.

Na verdade, Carmelita não entendia porque o marido aceitava suas grosserias, esse casamento chato, agora que passados da idade, não tinha mais jeito, “até que a morte os separe”.

Carmelita sentia saudades da juventude, queria mesmo era fazer tudo o que não pode, se submeter a uma aventura, algum deslize, alguma besteira antes de morrer.

Não tiveram filhos, Carmelita não suportava a idéia de ter de trocar fraldas, tomar conta de crianças, ter de ficar presa dentro de casa...Gildoaldo aceitou por amar demais.

Um belo dia, Carmelita chamou seu professor de dança para aula particular em casa, Fernando aceitou, queria juntar uns trocados para comprar uma moto, ficaria fácil se locomover de uma academia para outra. No dia, claro, o velho batom vermelho, o belo vestido de seda, por baixo um espartilho preto, lá ia Carmelita aprontar alguma...Resolveu dizer ao professor da sua paixão e depois de uns passos daqui outros dali, jogou o rapaz no sofá e se abaixou no sentido de beijar-lhe...Chega Gildoaldo e vendo aquela cena, desmaia lentamente...

Acorda no hospital, fora do perigo de morte, recebe visita da esposa.

O médico anuncia seu estado, que precisaria de companhia intensas, cuidados especiais, uma cadeira de rodas e fraldas descartáveis, o derrame deixou seqüelas...

Carmelita se pos a chorar...
Teria agora de cuidar de uma criança que nunca quis, não mais usar seu batom vermelho e sua roupa decotada, antes de morrer seria esta sua aventura, o que teria de se submeter.

Sulla Mino


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