Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Por Mário Rezende...A Troca


















Inúmeros presentes queria dar-te,

cobrir-te de jóias,

tecidos requintados

ou lindas coisas pessoais.

Queria dar-te mais,

o que não posso buscar lá fora,

o que em mim está fechado

e mal sei desembrulhar,

o meu amor contido.

Eu queria receber de ti um olhar,

mas que não fosse distraído,

e, cheio de ternura,

me dizer:

sou tua,

veja o que vai fazer comigo!

Contos que conto...Por Sulla Mino...Memórias Prte II

Minha filha jamais entenderia minha aflição, minha angústia em perder em apenas 7 anos da minha vida o que demorei 65 anos para construir .

Já não corro por aí feito menina, o caminho é longo, não me recordo dos vãos estreitos, estão obscuros, minha memória parece estar em amnésia, já não sei nem o que é a vida.

Não sei o porquê deste estágio cruel em meu caminho, às doenças relacionadas com a falta de memória, estão ligadas ao excesso de droga, álcool, derrame, traumatismo e até outras raras que tem por aí e eu aqui, com minhas dúvidas, com minha vida passando rápida demais e com coisas tão poucas, com simples lembranças, pequenos odores passados diante de mim, essas dores poucas que a vida impõe.

Um belo dia de domingo, acordei no hospital, um pouco agitada, um pouco fora de mim.

O dia estava nublado, um pouco chuvoso, senti uma vasta solidão, uma vontade de não estar ali, de voltar para casa e já não sei se a tenho. Apareceram-me duas jovens, uma chamada Selma e a outra Cilene, eram lindas e primaveris, uma com a voz melodiosa perguntou a uma enfermeira sentada ao meu lado:

- O que é memória?

- É a capacidade de armazenar informações, seja internamente, no cérebro.

- Ela tem memória?

- Sim, todos nós temos, no momento ela tem Memória imediata, é a memória que dura de frações a poucos segundos.

- Minha mãe disse que meu avô tem memória episódica, as lembranças de acontecimentos específicos.

- Existe também esta?

- Sim, a enfermeira respondia calmamente, existem vários tipos de memórias, é através delas que acumulamos experiências para utilizarmos durante a vida.

Entra no quarto no momento da conversa mais duas jovens, Vanda e Solange, curiosas, entraram, sentaram-se no sofá no canto do quarto e não se intimidaram em perguntar também:

- O que determina se uma informação deve ser armazenada?

- Quando uma informação é importante, ela sobrevive ao sistema ß-endorfínico, ocorre a liberação de doses de ACTH, noradrenalina, dopamina e acetilcolina que agem facilitando a consolidação da memória.

E para completar mais uma amiga chega ao quarto e também participou da conversa, era a Marinalda, a mais jovem da turma, depois de ouvir atentamente a enfermeira passar tanta informação importante, mais uma pergunta pairou no ar:

- Quais as doenças relacionadas com a perda de memória?

- Amnésia, Alzheimer, Parkinson, o alcoolismo grave, uso abusivo da cocaína ou de outras drogas, lesões vasculares do cérebro (derrames), o traumatismo craniano repetido e outras doenças mais raras também causam quadros de perda de memória.

- Vamos meninas, outra hora conversamos mais, minha paciente precisa descansar, estamos fazendo muito barulho aqui.

Neste momento, me deparei com um pequeno sorriso no canto da boca, estava cercada por aquelas jovens curiosas, me fez sentir bem.

Existem acontecimentos nas nossas vidas que não esquecemos jamais. Entretanto, nem tudo que nos acontece, fica gravado na nossa memória para sempre. E perdi a oportunidade de estar assim com minha filha, naquele dia em que não tive coragem de passar meu sofrimento, me isolei, me tranquei e foi tarde demais.

Hoje ela é minha enfermeira, não tenho a capacidade de verbalizar, de me declarar, minha depressão, essa doença psiquiátrica, que me tirou o ânimo e me deu tristeza profunda, os males e as circunstância na vida.

Não sei por que destas meninas que não me conhecem virem me ver, esta forma de carinho me fez tão bem, que durou o sorriso em mim por muito tempo, este que não sei quantos se passaram.

Sei que toda noite, ouço a melodiosa voz bem pertinho de mim, me sinto penteada e vestida, não sinto tantas dores, sei que o meu melhor remédio é esta companhia, este amor que sinto sempre que ganho um abraço durante a tarde, nem sinto vontade de voltar para casa.

Nas lindas manhãs de sol, ficamos sentadas nas cadeiras postas no jardim, gosto de ver as folhas caídas no chão e as belas flores nas árvores... Isso é o que vejo, já que não posso lembrar...

Sem rastros, sem minhas recordações, sem memórias...

Todo dia tudo é novo e não aprendo, sou criança sem saber do mundo que gira em minha volta.

Hoje tenho em mim um mal...

Chamado Alzheimer.



FIM



My Niver...



















Fiquei mais nova dia 09 de Julho, e me deliciei nas maravilhas de um baú de café da manhã, afinal, ninguém é de ferro, e só palavras não bastam para um poeta...

He he he!

Por Ronaldo Monte...Parto Natural







À uma e meia da madrugada, entramos em trabalho de parto. Entramos eu e Glória, os avós, Flávio, o marido e, last but not the least, Ana Lia, que bateu no nosso quarto e avisou com toda naturalidade: minha bolsa rompeu.

Muito naturalmente, chispamos para a maternidade, pois nossas contrações já atacavam em menos de cinco minutos de intervalo. Parteira e pediatra a postos, decidiu-se que o parto seria ali mesmo, no quarto. Nada mais natural, portanto, que eu me retirasse, pois tinha clara consciência da minha inutilidade naquele momento.

Talvez essa tenha sido a decisão mais errada da minha vida. Fiquei andando feito um bicho enjaulado pelos corredores, ouvindo os gritos de minha filha e imaginando todas as torturas que lhe estavam sendo infligidas por aquele bando de perversos. Por vários momentos estive a ponto de irromper no quarto de arma na mão e gritar: isto é um seqüestro. Todos para a sala de cirurgia.

Mas de repente fez-se um silêncio logo quebrado por um vagido apaziguador. Foram-se os monstros e em seus lugares estavam uma médica perfeita, uma pediatra competente, uma avó em lágrimas, um pai em transe e um mãe em exausta beatitude.
Foi a primeira vez que testemunhei auditivamente um parto natural. Pelo que sofri, passei a achar que não existe nada mais natural do que uma boa cesariana. Mas todas dizem que é bem melhor a recuperação rápida do que a chateação pós-cirúrgica. Não tenho como optar.

Natural mesmo é o nosso resguardo. Há uma tendência generalizada a ficar na cama, voltar depressa pra casa, nadar em lágrimas a qualquer pretexto. Natural mesmo é o clima amoroso que se instala em toda a casa contaminando outros endereços em volta do mundo. Natural, muito natural é que eu esteja aqui tentando disfarçar um sentimento transbordante que me causa a condição de avô de Anita.

Visite os blogs:

blog-do-rona.blogspot.com

memoriadofogo.blogspot.com

Por Sulla Mino... Horas de Solidão






















Entre palavras e pensamentos,

Cansaço e fadiga,

na noite fria que cai,

a mão trêmula não lembra versos.

Letras soltas, confusas,

nenhuma rima ou caricatura no papel.

Devaneios,

devaneios somente...

É um crime envelhecer com mãos

cansadas e lápis gasto...

Pensamento retarda, erradio...

A rede na varanda esperando

um balanço,

chegar lá com passos curtos e

arrastando o calçado...

O tempo passa, sem palavras.


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