Contos que conto-->Anjo na Praia
Me envolvi em seus
braços naquela noite. Foram alguns instantes que passei naquele quarto de
hotel. Envolvida e acalentada, uma mistura de carícias e suor. Não é amor. Não
é sentimento. E o que seria então? Esta vasta vontade de beijos gostosos e
abraços fortes... Ainda sinto a pele morena na minha, ainda sinto aquele
momento, tão breve, mais parecia que tudo passava bem rápido diante de mim, ao
meu redor o mundo não existia, somente ele e eu e aquela voz suave ao ouvido.
Uma voz rouca, pouca, que repetia palavras delicadas e mansas. Me senti um
anjo. E sinto que pairei sobre as nuvens mais brancas no céu, uma mistura
fantasiosa de mim e alguém que me ronda. Me faço menina, tentando achar
estrelas, e sei que ainda nem noite é, mais no meu céu há tantas coisas juntas,
que nem sei explicar...Uma constelação que me invade, me acanha e me torna tão
calma feito um rio solitário. Sinto trovões por cima de minha cabeça, vultos
sinuosos e primaveris. Estou sã? Porque sei que sou completamente louca e sinto
ainda em meu corpo as marcas de amor deixadas, sinto como se tivesse levado
muitas flechadas do cupido maldito.
Por que ele me quer? Não quero a certeza de
nada e sim as tempestades venenosas deste prazer. Não sei porque acham que me
escondem tantos segredos, se o segredo sou eu... Não sei porque tapam a noite
da minha face miúda, ou abafam o cheiro bom de jasmim que vem de fora. É o
fervor que me deixa ranzinza e um tanto perigosa. E minhas asas imagináveis me
levam alto, um voar com tantos sonhos dentro de mim, e giro...Rodopio...Um
looping colorido dentro de mim... Mais
ainda estava naquele quarto e era real, feito o dia que se vai e a noite que
chega tão logo, feito o preto e branco, Rapunzel e seu longo cabelo. Quatro
paredes, champanhe...A cama macia e lençóis sedosos... A tv fora de sintonia, e
um pequeno abajur aceso, um momento romântico...E apenas tenho comigo desejos
juvenis. Amarro o laço do cabelo e me ajeito para ir embora.
Ir dali, voltar
para a triste realidade, para minha sofreguidão interminável. Embora dolorida
por dentro, lá no fundo do peito, vou sem resmungar, e mesmo que me coce a
garganta, doida para cantarolar versos de felicidade, não me atreveria... Não
gostaria de um conflito entre a raiva e o sorriso no canto da boca. O nó foi
feito com muito esmero dentro de mim, sou agora apenas um anjo com medo, medo
de não poder ser abraçada novamente, medo de apodrecer e não conseguir morrer
de outra forma. Este hotel que minha mente retém, é apenas o primeiro degrau
estúpido para fugir daqui, este alguém de braços amáveis é apenas o meu desamor sem importância, um deslize e
desdém da minha dor, da minha alma fatigada e estragada, sem juízo e sem pudor.
Levo comigo este momento apenas. Talvez uma leve lembrança do letreiro quebrado
e da calçada lavada. Um flash ignorante de um lugar que não existe mais. E um
gosto doce de pêssego na boca. Fim. Meu corpo jogado na praia... Um beijo
apenas era o que eu precisava.
Exatamente como estava no livro que li.
Torname-ei somente uma moça de vestido vermelho ou anjo perdido na praia...
Lagoa Santa & Peter Wilhelm Lund
Dos meus muitos
passeios por este mundo de Deus, um lugar me chamou a atenção, Lagoa Santa. Conheci
este lugar em Belo Horizonte-Minas Gerais e o poder de sua água curadora. Isto
mesmo, a origem da cidade está ligada às propriedades das águas ali
encontradas. Segundo crenças locais, a lagoa que dá nome ao local possui
minerais com propriedades curativas, daí a associação ao nome do município. Muitos
foram os visitantes que procuravam a Lagoa Santa para melhorar a saúde
banhando-se na lagoa. Foi fundada em 1733 por Felipe Rodrigues,
tropeiro viajante que se estabeleceu no local. Era chamada de Lagoa Grande e
Lagoa das Congonhas do Sabarabuçu.
Foi Felipe Rodrigues, tropeiro viajante,
quem primeiro sentiu o efeito benéfico destas águas. Ao lavar os eczemas de sua
perna, sentiu-se aliviado de suas dores e obteve a cicatrização de suas
feridas. A notícia da cura milagrosa logo se espalhou pelos arredores e o
pequeno arraial passou a receber peregrinos em busca da cura para seus males. A
perenidade da lagoa é atestada pelos relatos dos naturalistas viajantes, desde
o século XVII. Sua profundidade não ultrapassa três metros, sendo que, a
aproximadamente 40 metros de sua base, encontra-se um aquífero que contribui
para a sua existência. E também, em grande parte, alimentada por águas
pluviais.
Seu formato é triangular e, no período das cheias, seu vertedouro
lança suas águas no Rio das Velhas através do Córrego do Bebedouro. E o que tem
Peter Wilhelm Lund com a Lagoa? O cientista dinamarquês Peter Wilhelm Lund
(1801à1880) é considerado o pai da paleontologia brasileira, o ramo da ciência
que estuda as formas de vida existentes em períodos geológicos passados, a
partir dos seus fósseis. De acordo com a revista Ciência Hoje, da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência, em artigo de Raquel Aguiar, o
pesquisador descobriu mais de 12 mil peças fósseis em cavernas da região de
Lagoa Santa (MG), que permitiram escrever a história do período pleistocênico
brasileiro, o mais recente na escala geológica. Entre as descobertas de Lund,
figura o denominado Homem de Lagoa Santa, que revelou a presença humana no
local há mais de 10 mil anos. Contam-se também exemplares do
tigre-dente-de-sabre, da preguiça gigante e do tatu gigante, entre outras
espécies. Lund também é reconhecido como o pai da espeleogia no Brasil, o
estudo da formação de grutas e cavernas. Explorou mais de 800 delas, algumas
das quais foi o primeiro a localizar e a entrar. No campo da arqueologia,
relatou a descoberta de importantes pinturas rupestres (feitas na rocha) e
instrumentos de pedra.
Acho que foi também um verdadeiro poeta... "Nunca
meus olhos viram nada de mais belo e magnífico nos domínios da natureza e da
arte", resumiu o cientista. Ele se referia aos efeitos cênicos provocados
pelas estalactites e estalagmites. "Todos estes deslumbrantes primores da
natureza são realçados pelos mais delicados ornatos tanto de formas fantásticas
quanto de bom gosto, franjas, grinaldas e uma infinidade de outros
enfeites", Lund escreveu. Em 1843, Lund descobriu ossos humanos de cerca
de 30 indivíduos, misturados a fósseis de animais. Do ponto de vista
antropomórfico (referente à forma humana), os fósseis descobertos eram bastante
distantes dos indígenas americanos e próximos dos negróides.
Suas
características físicas eram homogêneas, o que indica seu isolamento genético
(aqueles indivíduos não teriam se misturado com outros grupos). Essa identidade
configurou o perfil daquele que ficou conhecido como o Homem de Lagoa Santa. As
ossadas mais antigas foram datadas entre 11 mil e 8.000 anos.
Bom conhecer histórias
e pessoas interessantes que fizeram parte dela, não acham?!
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