Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Castelo Rá Tim Bum em São Paulo-SP 2019 *Parte 1
















O caso das 90 maçãs. A ciência e a caridade. -- O Homem que Calculava



(Capítulo XVII)


            Certa vez um mercador, chamado Aziz Nemã, empunhando um papel cheio de números e contas, veio queixar-se de um sócio a quem tratava de“ladrão”, Beremiz procurou acalmar o ânimo do homem e chamá-lo ao caminho da mansidão.
            E, a seguir, examinou com paciência as contas, e descobriu nelas vários enganos que desvirtuavam os resultados. Aziz certificou-se de que havia sido injusto para com o sócio, e tão encantado ficou com a maneira inteligente e conciliadora de Beremiz, que o convidou, naquela noite, a um passeio pela cidade.
            Foram até um Café. Um famoso contador de histórias, no meio da sala, prendia a atenção de um grupo de ouvintes. Falava com voz alta e vagarosa, acompanhado por dois tocadores de tambor. Narrava, uma história de amor. Os ouvintes não lhe perdiam uma só palavra.
            Árabes, armênios, egípcios, persas, refletiam na expressão do rosto todas as palavras do orador. Naquele momento, com a alma toda nos olhos, deixavam ver, claramente, a ingenuidade e a frescura de sentimentos que ocultavam sob a aparência de uma dureza selvagem.
                        O mercador Aziz Nemã, que parecia muito popular naquela barulhenta sociedade, foi ao centro da roda e comunicou ao cheique, que estava acompanhado com o célebre Beremiz Samir. Centenas de olhos convergiam para Beremiz, cuja presença era uma honra para os freqüentadores do café. Em homenagem foi narrada uma história que envolvia um problema cuja solução, até agora, não foi descoberta.
            Vivia outrora, em Damasco, um bom e esforçado camponês que tinha três filhas, eram dotadas de alta inteligência. O cádi, invejoso e implicante, irritou-se ao ouvir o rústico elogiar o talento das jovens, resolveu oferecer o caso das 90 maçãs.
            90 maçãs que deveriam vender no mercado. Fátima, que é a mais velha, levara 50. Cunda levara 30 e Siha, a caçula, será encarregada de vender as 10 restantes. Se Fátima vendesse as maçãs a 7 por 1 dinar, as outras deverão vender, também, pelo mesmo preço, isto é, a 7 por 1 dinar; se Fátima fizer a venda das maçãs a 3 dinares cada uma, será esse o preço pelo qual Cunda e Siha deverão vender as que levam. O negócio deve fazer-se de sorte que as três apurem, com a venda das respectivas maçãs, a mesma quantia.
            Aquele problema, assim posto, afigurava-se absurdo e disparatado. Como resolvê-lo? As maçãs, segundo a condição imposta pelo cádi, deviam ser vendidas pelo mesmo preço. Foram consultar, sobre o complicado problema, um imã, que morava na vizinhança.
            O imã, depois de encher várias folhas de números, fórmulas e equações, nada esclarecia o intrincado enigma das 90 maçãs.
            Cabe agora ao nosso calculista explicar como foi resolvido o problema. Beremiz encaminhou-se para o centro do círculo formado pelos curiosos ouvintes e explicou calmamente todo o seu cálculo para o problema E seguiu explicando todos os fatores da incrível matemática.
            O cheique El-medah ficou encantado com a solução apresentada por ele. A ciência é uma grande montanha de açúcar; dessa montanha só conseguimos retirar insignificantes pedacinhos.
            A única Ciência que deve ter valor para os homens é a ciência de Deus, que é a caridade. O calculista lembrou da poesia admirável que ouvira, pela voz de Telassim, nos jardins do cheique Iezid, quando os pássaros foram postos em liberdade:
            “Falasse eu a língua dos homens e dos anjos,
            e não tivesse caridade,
            seria como o metal que soa,
            ou como o sino que tine.
            Nada seria!”
            Por volta da meia-noite, quando deixaram o Café Bazarique, vários homens, por consideração, ofereceram lanternas, pois noite ia escura e as ruas estavam esburacadas e desertas.

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