Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Pássaro Triste



Minha asa branca está quebrada. Oh Deus! Como poderei voar agora? Não poderei dar lindos rasantes por aí, e como poderei alimentar minha dor? A sensação no momento é de estar caindo do alto do prédio, não poderei bater fortes as minhas belas asas. Não quero beijar o chão, quero somente que estas correntes se quebrem, as correntes que minha memória retém. Se já um pássaro não posso ser... Não é fácil conviver com monstros. Eles estão por toda a parte! Tenho medo, e caminhar pelas ruas já não é prazeroso. Às vezes pássaro, às vezes menina. 

Deus, quando deixarei esta dor amena? Minha meiguice já não basta. Terei de ter um novo plano para viver. E viver tem sido meu fim, constantemente. O céu já não é tão azul, e já não admiro contar estrelas a noite. Apenas durmo. Durmo pássaro e acordo menina. Ou sou uma menina querendo ser pássaro? E já não é um sono tranquilo, os pesadelos atordoam. E pela manhã já não sou aquela menina feliz. Sou agora uma mísera jovem em busca de um novo caminho. 

Ou um Merro tentando ser Ícaro! E qual deverei seguir? Seguir não sei como, não posso voar. Um corvo solitário? Que não se despede... Já não sou aquele pássaro feliz. Não sou da paz e nem da guerra, já não tenho alma, nem canto, nem choro no dia-a-dia. O caos consome meu céu. Minhas asas já não voam mais, sou apenas um pássaro solitário e nada mais me define. 

Quero ser novo, quero ninho e colo. Sou uma ave de luto e já não me cabe viver. E pra que preciso voar? Pertenço a escuridão, a madrugada fria e isto me torna mais um ou uma coruja barulhenta da noite. Coruja agora sou? Faço parte do vazio, das noites. E aguardo uma manhã mais longa e quente. E assim consigo viver mais um dia. 

Minh’alma grita; um grito rouco e estúpido. Mais não canto! Era um tanto ela, um pouco de mim, éramos nós! Evolução plena, mesmo sem ninho. Cinzas. Asa quebrada. Dor infinita. Serei Fênix algum dia? Agora apenas uma ave desordenada e infeliz. Voltarei para a gaiola, lá consigo fingir ser alegre, embora tão triste. 

E nunca mais serei criança, nunca mais andarilha das ruas de barro, de chinelos rasgados... Nem serei fêmea, nem consigo mais ser uma doce menina... Agora só passarinho.
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