REENCONTRO AO LUAR
Foi a Lua quem me disse:
“Ela te espera, deixa de
tolice rapaz!
Eu mesma desenhei a sua
sombra
que se alonga tal que sua
esperança.
Também fui eu quem fez
brilhar
uma lágrima solitária,
carregada de amor e ternura,
que rolou preguiçosa e
sofrida,
riscou silenciosa o seu
rosto
e se escondeu entre os
seios,
cheios da sua ausência,
que esperam, generosos, o
seu amor.”
Então eu senti, como uma
lufada de vento,
a minha chama se avivar,
pela sensação gostosa de
ser amado,
de ouvir o amor sussurrado,
cantado pelo vento no meu
ouvido,
da menina ávida de mim.
E do tamanho do seu fascínio
eu me dei conta, enfim.
E o meu barco rumou sereno,
apressando a lentidão do
tempo,
trazendo seu homem de volta
ao cais.
E, sob o olhar prateado da
lua alcoviteira,
estreitei o seu corpo ao
meu
e me fundi, feliz, com meu
amor.
ahlanaC (Canalha)
Estive
pensando nestes dias sobre canalhas. E também por coincidência
passou um canalha em minha vida. Um não, vários! Como passa na vida
de qualquer um, todo dia. Canalha, uma pessoa sem moral e
verdadeiramente um patife. Canalha também é o rótulo que a
sociedade dá ao homem que procura a mulher com finalidades outras
que não os compromissos sócio-conjugais (namoro, casamento).
Sedutor, possui habilidade para relaxar suas parceiras a ponto delas
se sentirem desejadas por um homem que conhece a alma feminina e suas
fragilidades.
O canalha aparece quando a mulher deixa de se
sentir especial pelo homem em questão. Tenho procurado uma definição
para tal palavra e se poderia, de alguma formar, mudar este rótulo.
Creio que não há! Desde que o indivíduo foi tachado por estas
piores qualidades, não tem muito o que fazer mesmo. Adorei o texto
do Jornalista Chico Garcia, que dia: O canalha não tem jeito mesmo.
E nunca terá. Ele é o sociopata do amor. Inspira confiança e
expira mentiras. E você, na falta de algo melhor, vai respirando
esse ar sedutor.
No alto dos seus 1,70m de mulher independente, forte
e sedutora, você sempre acha que pode consertá-lo. Esqueça, você
está apaixonada e o antídoto para o canalha é o desprezo. O
canalha finge que não é um canalha. Posa de bom moço, carente,
apaixonado e infeliz. E você acredita ser a salvação dessa alma
perdida, depois de tantas desilusões amorosas. O canalha cria uma
nova identidade, mas sem registro em cartório. Ele age por instinto,
não sabe ser de outra forma. A sedução faz parte da sua
sobrevivência emocional. Ele é uma fera e você o prato de comida.
Mas ele tem um jeitinho tão meigo, uma conversa tão bacana, não é
mesmo? O canalha é inteligente, sagaz, enigmático e te faz rir.
Pronto, o cara perfeito. O único porém é que ele nunca será
completamente seu. Amar um canalha é entrega sem devolução. A
submissão é ingrata: revolta, mas apaixona. O canalha é o disfarce
da conquista, máscara do engano. E é justamente isso que te encanta
nele. Ele sorri em versos, fala em melodia e te decifra com os olhos.
O canalha parece ter o manual de instruções para seduzir. E faz
isso sem nenhuma força. Você consegue ver sensualidade nele
caminhando na rua, tomando whisky, acendendo um cigarro e até
dirigindo.
O canalha nem bonito é, mas parece ter nascido para
desafiar o seu bom gosto. Ele faz você escutar músicas que você
nem sabia que existiam, faz você pesquisar textos e frases que
traduzam o que você está sentindo. Faz você acordar de manhã e
lembrar dele, pelo menos, na hora de passar o perfume. O canalha não
pede, manda. Você adora e depois se odeia. Tenta escapar e horas
depois, cai numa armadilha. Mas não fique triste, o canalha é o
“teste drive” para qualquer corrida amorosa. É pré-requisito
para as provas de amor.
Toda mulher precisa de um bom e cruel canalha
no seu caminho para encontrar o próprio valor. Somente depois de
alguns meses mendigando atenção e se alimentando de mentiras
cobertas por uma camada de ilusão, que você vai encontrar a
correspondência do seu amor. Não nele, claro. Mas antes do coração
achar o endereço certo para se apaixonar, é preciso primeiro ter
garantias. É a conquista do chamado amor próprio. Amar um canalha
faz parte da vida, é a construção de si mesma, leitura obrigatória
para o vestibular sentimental que vem pela frente.
Estar com um
canalha é mais do que necessário. É gostoso”. Vivemos a “Era
Canalha”, a verdade é esta. Não podemos rotular apenas os homens
casados, e sim a sociedade, o mundo. E existem muitos tipos de
canalhas. Por Bezerra da Silva: “ Canalha, tu é um verdadeiro
canalha. Rapinou o dinheiro do povo, Saiu esbanjando. E fazendo
bandalha”. Música dos Titãs: Não tarda nem falha. Apenas te
espera. Num campo de batalha. É um grito que se espalha. É uma dor.
É uma dor canalha. Que te dilacera. É um grito que se espalha.
Também pudera.
Canalha! No livro de crônicas do escritor gaúcho
Fabrício Carpinejar, ele mostra que o canalha mantém seu charme
sexual. Interessantes frases: “Quando eu penso que já conheci
todos os babacas e canalhas do mundo, percebo que a espécie é
infinita”. “E há mulheres tão canalhas que deveriam ter nascido
homens”. E termino contemplando Millôr Fernandes : “Se você
agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas uma coisa
é certa: haverá na Terra um canalha a menos”.
Mais será
que a culpa é realmente inteira do canalha? Ele pode escolher o tipo
que quer ser. E quando está completamente inteiro, pode ser você
ou... Eu.
Moço
A vida passa
correndo, eu sei. E realmente estou vivendo? Ou apenas remexendo os
velhos baús de histórias? Decifrando as inúmeras palavras soltas e
ignorando as que estão no ar... Deus é generoso, e embora eu seja
apenas uma poetisa louca, com pele aveludada, uma errante singela e
apaixonada, uma amante desnuda, escondendo amores perfumados,
pensamentos que abocanham-me, feito gula infantil. Acelera-me o cio,
fora de prumo, gritos roucos, atordoada de amor.
Mas, minh’alma
ainda debruçada na janela da solidão, eu nua, tentando atrair o
moço bonito do outro lado da rua. E penso como seria nós dois
abraçados e fadigados... Sem razão, feito andar nos trilhos,
enamorados. Isto seria uma alegria macia, me arrepia a nuca em
pensar, numa intensa ansiedade, feito jogo provocante, e sigo
extasiada neste fervor absoluto... Neste querer de enredos breves e
suor derramado no corpo. Mais agora só penso nos beijos quentes, nas
mãos tateando minhas curvas e uma simples taça de vinho sobre a
mesa.
E embriagada deste sonho pouco, que estreita minha tristeza,
tento não dormir sobre a colcha colorida da solidão, porque agora
tenho sede e não quero a insônia e seu veneno estúpido, sinto-me
encharcada de volúpias sem fim, em mim, delicadamente... E banhada,
feito flor que se abre na primavera e perfuma pedestres na calçada,
sigo pulverizando um sabor carente, delírios... Numa cadeia
frenética, exalando minhas agonias, e desatando todos os meus
desafetos, pétala por pétala, todos os tesões e palavrões da
minha língua afiada e doce.
E os restos de mim, os espinhos
sangrentos, enrosco em meus passos, antes miúdos e agora apressados
na noite que aponta na minha janela. Isto sim é amor! Porque me dói
inteira. Porque ainda estou faminta de calafrios, porque ainda sou
abelha sem mel. Isto é loucura! Disto também sei. Porque me delicio
nas frases perversas de desamor. E um simples café pela manhã já
não basta, não me desperta para o dia, e lampejos de solidão ainda
me encontram, tento me esconder e não sei onde, viajar para fora de
mim é inútil.
O moço já se foi? Me lambuzo com medos bobos e me
disfarço com qualquer motivo, porque agora sou o fracasso.
Torname-ei sã, deixando meu eu antiga ir embora, e prefiro a
liberdade serena, fitando apenas um gozo tosco e fora de moda. Porque
estou à flor da pele. Porque não quero derramar lágrimas na minha
pele jovem novamente. Amor... Amor... Amor...
O refrão da música
soa repetidamente em minha memória, feito lembrete tatuado na palma
da mão. Vou continuar o remendo no pobre coração que ainda me
resta, enquanto aguardo o moço voltar.
O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, uma história de amor.
No
meio da vasta e prestigiada obra literária do escritor Jorge Amado,
encontra-se esta joia rara que só poderia ter surgido em um momento
muito especial de sua vida. Trata-se de uma história de amor criada
especialmente para presentear seu filho, João Jorge, no seu primeiro
aniversário, em 1948. Jorge Amado morava em Paris com a mulher,
Zélia Gatai, e o garotinho.
Colocado no meio das bagulhadas
infantis, o texto se perdeu e só reapareceu em 1976. Foi quando o
artista plástico Carybé o leu, e resolveu ilustrá-lo. Diante
disso, Jorge Amado cedeu aos pedidos e publicou sua obra secreta.
Carybé foi um pintor, desenhista, ilustrador, ceramista, escultor,
muralista, pesquisador, historiador e jornalista argentino
naturalizado e radicado no Brasil. Durante a época que morou no Rio
de Janeiro, foi escoteiro. Lá, era costume cada um ser identificado
por um nome de peixe e ele recebeu o seu apelido (nome de um tipo de
piranha).
É a história de um romance impossível, uma paixão
avassaladora e fatal entre um gato malhado, tido como um ser mal e
egoísta, e uma andorinha alegre e vibrante, que arrasa corações
por onde passa. Um amor fadado a terminar mal.. Uma história que o
Vento contou para a Manhã, que teve de contar para o Tempo para
ganhar uma rosa azul, e toda criança merece conhecer. Toda criança
e todo adulto também. O temperamento do Gato Malhado não era nada
bom: bastava aparecer no parque para todos fugirem. E ele ia tocando
a vida com a indiferença habitual. Até que, chegada a primavera, o
Gato nota que a Andorinha Sinhá não tem receio algum dele. Foi o
suficiente para que dali nascesse a amizade dos dois, que se
aprofunda com o tempo.
No outono, os bichos já viam o Gato com
outros olhos, achando que talvez ele não fosse tão ruim e perigoso,
uma vez que passara toda a primavera e o verão sem aprontar. Durante
esse tempo, até soneto o Gato escreveu. E confessou à Andorinha: Se
eu não fosse um gato, te pediria para casares comigo. Mas o amor
entre os dois é proibido,não só porque o Gato é visto com
desconfiança, mas também porque a Andorinha está prometida ao
Rouxinol.
Jorge Amado colheu essa história de amor de uma trova do
poeta Estêvão da Escuna, que a costumava recitar no Mercado das
Sete Portas, em Salvador, e a colocou no papel com o tom fabular dos
contos infanto-juvenis. A história é um universo de afeições e
toca diretamente no problema do preconceito e da intolerância. E,
apesar de tudo, traz a mensagem positiva de que amar vale a pena.
Personagens que condenam o amor impossível...A moral deste livro é
que o mundo só vai avançar e ser melhor quando as pessoas aceitarem
as suas diferenças, sejam elas raciais, sociais, educativas...
“O
mundo só vai prestar Para nele se viver No dia em que a gente ver Um
gato maltês casar Com uma alegre andorinha Saindo os dois a voar O
noivo e sua noivinha Dom Gato e Dona Andorinha”. Uma fábula na
verdade, sobre o amor impossível de um gato solitário. E se o gato
fosse você? O livro é extraordinário, um desencadear magnífico do
amor e à evolução que este sentimento vai sofrendo, as alterações
comportamentais que vai provocando nos seus protagonistas ao longo
das quatro estações do ano.
O livro encanta e mostra que nem sempre
existe um final feliz. Amei!
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