Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Por Ronaldo Monte...O Velho e o Antigo

Tenho sessenta e dois anos e guardo uma fotografia de quando tinha uns quatro anos de idade. Agora, pergunto: quem é velho, eu ou o menino da foto? Uma das respostas que me ocorrem é que a foto seria antiga, enquanto eu sou contemporâneo. Pelo menos contemporâneo de mim mesmo. Deste ângulo, velho seria o menino da foto, enquanto o cara que escreve estas linhas é um fenômeno atual.
De um certo ponto de vista, o menino da foto e o escriba são exatamente a mesma pessoa. Ou não? Vejamos. Será que as células do sessentão são exatamente as mesmas do garoto? As feições do velhote lembram minimamente a cara rechonchuda da velha fotografia? A memória do pré-ancião recorda as coisas vividas pelo menino? Pode ainda o atual candidato a proveta olhar o mundo com os mesmos olhos ingênuos da antiga criança? Pode o gasto coração sentir com o mesmo frescor as emoções que abalavam o coração nascente?
Enquanto escrevo, vai se firmando uma certeza: sou um ser de memória. E no âmbito da memória, tudo gira entre o velho e o antigo. Velho sou eu. Antigo é o menino. E de mãos dadas, o velho e o antigo vasculham os escombros da memória para com isto construir algo de verdadeiramente novo. Algo que estará além de mim e do menino.

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