Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Contos que Conto ... Yane, livro e morte... (Parte I)

O suor que escorre no corpo não é falso. Busco a brecha para queimar-me no sol da manhã, uso o sangue fresco para beber, para embriagar-me constantemente. Estou farta, falsa, presa.

Carros passam na estrada, longe do meu pensamento. A fumaça que sai da chaminé não tem aviso e as folhas da floresta intimidam meu rastro. A manhã se esconde da minha face, somente a escuridão é minha amiga, dentro de mim, do corpo cansado. Lágrimas, solidão, cansaço. A febre aumenta, o gosto de fel sufoca a boca, olhos pesados e cerros.

A velha casa abandonada atrás da colina, uma cabana em um caminho incerto dos aventureiros. Era meu aniversário, uma noite chuvosa, raios entorpeciam, fui trazida de qualquer jeito, por homens estranhos, forasteiros atrás de recompensa.

Os homens conversam na cozinha, nutriam o valor, o meu preço. Na única brecha eu acompanhei o meu próprio terror. Meu pranto tinha de ser brando, o pavor silencioso e o medo medroso.

Chove agora, a goteira no meio do cômodo era no momento minha melhor bebida. O vento está forte e faz frio. Meu cemitério oculto, o chão úmido. Minhas lágrimas fazem prece diante do meu túmulo ainda não cavado.

- Sr.Dilan, sei que é um verdadeiro detetive, dos mais competentes que conheço, acha que ela ainda está viva? D.Lady mãe de Yane já estava cansada das buscas em vão pela floresta.

- Senhora, tenha mais calma. O detetive Carlos acalmava a mãe aflita, tentando não transpassar a gravidade do problema.

- D. Lady, ele ligou novamente e pediu um valor mais alto e combinou o local para troca.

- Não importa o valor detetive, quero minha menina de volta, somente.

Os detetives, D. Lady, o mordomo William, acomodados na sala de estar, tentando obter sucesso neste suspense perverso. Passam dias assim...

Na cabana, no alto de uma prateleira, Yane encontra um belo caderno e um velho lápis vermelho, roído na ponta... Uma criança que passara por ali certa vez esquecera. Yane subiu no caixote, fugindo do chão molhado e ficou a rabiscar palavras, mesmo fraca, resolvera escrever o que sentia, o que ouvia, o que via pela fechadura enferrujada e gasta. De todas as conversas ela engrandecia com suas próprias palavras, sem consertar os erros de português, mesmo sem poder alinhar as letras, a escuridão impedia de ela preparar uma história bonita, porém, estava sendo a mais verdadeira de sua vida.

A noite aponta do lado de fora e a escuridão era única dentro da cabana, dentro de si, era o momento infernal, os homens fardados de monstros invadiam o quarto e se apoderavam da jovem, violentavam o seu corpo suado e a surravam até o sangue fazer mancha na roupa.

Yane já não enxerga direito, as dores pelo corpo eram intensas, seu braço esquerdo não tinha movimento algum e uma ferida na perna não cicatrizava... Nem por estes ela desistiu de registrar seu próprio testemunho e detalhava friamente seus momentos e tristemente sua morte.

- D. Lady, capturamos o sequestrador...O detetive adentra na sala um tanto ansioso.


CONTINUA...



* Imagem Google

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...