Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Contos que conto --> Minha Melancolia


Minha melancolia é igual a uma criança que brinca no balanço do quintal. É feito folhas que aguardam lentamente o outono chegar ou até mesmo o gosto diferente de queijo com goiabada que fica na boca. É feita de restos de brigas, soco bem dado na parede, pele e osso e até teias que se alastram no canto da sala. 

Mais posso ser também como a brisa que invade as manhãs. Ferro, fogo, ferida fechada. Esta melancolia é feito aquele sonho que te faz sorrir quando levanta da cama, galope de um cavalo branco e o bater de asas de uma borboleta azul. 

Eu não seria ninguém. Ou seria alguém? Hoje sei que sinto, que vivo e respiro...Algo tão intimamente feroz! Porque sei que sou outra, do avesso e corretamente única. Esta insônia acordada dentro de mim, tão cheia aqui, me transbordando, espero um dia não obedecê-la, não sorrir para ela noites adentro. Mesmo querendo ser outra, sentir outras coisas, ainda tenho medo e acordo em seus braços nas manhãs frias do meu quarto. 

Seu colo é meu único conforto, lamentavelmente eficaz. 
E mesmo com minha voz melosa, este medo se exalta e me faz prisioneira, flor sem pétalas, chão sem asfalto, criança sem mãe. E nem mesmo minha alegria se manifesta, ou faz uma festa ao ambiente tosco do meu lar.

E fico tola, olhando para o céu das minhas noites finitas, procurando um pouco do véu estrelado que me cobre, um pouco da morte que me sorri, bela e mansa. Mesmo assim sou mais feliz nesta procura de ser feliz do que me saborear nos meus pulsos fracos...Sou muito mais Eu com esta melancolia e mesmo me entorpecendo neste desamor insuportável, ainda assim sou eu aqui, esculpida nesta agonia linda e meramente doce. 

Estou coberta de demônios fracos e hostis, cantarolando blá blá blás em minha cabeça noite e dia, dia-a-dia. Constantemente. Um tipo de música que dói na alma. E com isto meus passarinhos voam todos, correm num bater de asas acelerados e frenéticos. 

Fico só novamente. Sem meus pássaros, canção, insônia...Insônia...Insônia. Minha melancolia decerto é louca, com um tanto de bom humor e uma pitada, bem pouca, de pavor. 
Alucinada fico, alucinada estou. E meu próprio ar me sufoca lentamente e toda hora morro devagar, sufocando em minhas próprias agonias, adormecendo nos meus próprios pesadelos. 
E minha vontade de gritar por ajuda, poder sair deste mundo aqui, é farta.

E mesmo com minha alegria ressentida e este sono, um sono infinito e mal, mesmo com esta solidão sofrida, deste amargo na língua, procuro nos bolsos pedaços do meu coração. 
Catando-me perdidamente para não deixar minha melancolia se tornar mais forte do que eu. 

Amor...


Meu lado Samanta



Me refiz esta manhã. Acordei bela por ter matado Samanta. Ela morreu em meu pensamento, e muito por dentro de mim e pude com isto acordar inteira. Acordei por ter sonhado, e acordada queria dormir novamente e esquecer que Samanta um dia existiu em mim. Era minha gêmea. Uma parte estragada e funesta que existia no mais íntimo do meu ser, na minha parte mais inteira, meu âmago. E mesmo sendo tão estranha, nunca fui louca. 

Mesmo com conflitos a outrem. De muitas formas e jeitos. E a cegueira em mim me envolveu neste arranjo sentimental, me fez ter um queixume sincero e sem fim. Resolvi me embrenhar de vez em quando. E quando o sono ataca tão atroz, volto pra casa. E assim Samanta me consumia e me apresentava à muitas ideias durante meu sono. Me mortificava em meio as minhas tentativas de sonhar um sonho brando e tranquilo, sem me sentir tão cansada ao acordar.......Sei que eu estava numa demência repentina pela manhã e um surto invejável não seria ruim. 

E eu queria assim todos os dias, não ser tão demente, e não aguentei quando Samanta me atordoou numa manhã fria. Agora ela está lá desmaiada, e lindamente silenciosa. Sem pulso. Sem dor. Sem enigmas traiçoeiros. Agora ela está morta e realmente não sei o que será de mim assim, tão perdida. Mais me refiz, e já me sinto uma estátua no jardim. Uma estátua de olhos serenos e roupas leves. Mais serei sempre triste por ter este demônio dentro de mim. Ele me faz cócegas e sorrindo feito louca vou por aí matando monstros. 

E o meu era de mãos macias e de palavras doces. E usava uma flauta amarela, e derramava em mim encantos suaves, eu saía por aí feito zumbi perdida e devorava alguém. Devorava vivos também? E hoje cedo foi Samanta. Esta sombra que me acalentava e que muitas vezes, me atava no quarto. Ela era a parte mais importante de mim. 

Era meu lado majestoso e cativante. Todas as noites sinto saudade dela, do gosto afável da sua companhia. Olho embaixo da cama e profundamente sinto a dor de estar só novamente e não consigo dormir. E quando durmo com meus cacos purpurinados... Acordo arrependida. Por ter jogado fora a mais linda flor. Por ter amargado o mel das minhas insônias. Samanta se foi e eu agora fico louca...Louca na escuridão de mim.

Saudade



Sinto como um sopro forte na nuca. É uma saudade infinita, e sinto tão aflita e cortante aqui dentro de mim. Feito um sopro tão forte e atordoante. Sinto! E este sentir eterno dói, dói-me na alma. Sinto esta dor sinistra por dentro. Talha-me e retalha. 

É a saudade tão danada em mim. Do amor em que estou não gozo a poesia, isto me aflita! Fico a supor muito mais que este amor, e seria ele tão verdadeiro assim? E o que será da donzela tão bela que habita em mim? Viver sem rascunhos, sem eiras e versos... Sinto esta sensação absurda no meu peito, que me aperta e que retém meus sorrisos tolos do mês. Pobre estou sem letras tortas e palavreado miúdo. Agonia constante de mim, em mim... E o que sinto assim me faz bem? Pior seria nada sentir?  Estou fardada desta agonia mimada em querer não sentir tantas coisas assim. Mais a saudade fala mais alto, feito grito agudo ao pé do ouvido. 

Ó outrora não desejei tanto assim. Ó Deusa das minhas aflições... Tira-me deste calabouço de ideias perdidas, tira-me um pouco destas tentações nas entranhas. Ai de mim sem orações! Ai de mim sem amém. Ai que estou em fadigas muitas. A saudade que mais aperta aqui, em algum lugar aqui dentro eu ainda não detalhei. Será dos palcos mundanos, ou apenas de cidade de onde vim? Seria esta saudade louca da roupa que perdi, ou do calçado que furou? 

A saudade que incomoda seria da estrela que nunca mais vi, ou do relógio que se quebrou... O café também tem minha saudade na boca, daquele beijo que me foi roubado na juventude, do sonho recheado de chocolate, sinto saudade também. E lembrar do samba no pé e do sol fraco em dia de domingo me deixa em saudade tranquila, feito um balançar lento dos girassóis na varanda. E como já dizia Vinícius ¨Chega de saudade. A realidade é que sem ela, não há paz não há beleza, é só tristeza e a melancolia. Que não sai de mim. Não sai de mim. Não sai¨. 

E no meio das minhas tantas lembranças e belezas, esta saudade me faz assim tão bem. Esta melancolia tão boba, mesmo assim me conquista dias e noites. Sou dela e ela está desde sempre em mim. Serei feliz com ela até meu fim? Ó saudade que me acorrenta em tuas delícias, e me afaga em teus flashes malditos.  Não sai de mim. É apenas uma imensa saudade que sinto de um amor , partindo...
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