Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Por Sulla Mino...Memórias... Parte I

Alguns anos atrás, tentei explicar à minha filha toda angústia que se passava meu coração. Tive receio dela não entender e me abandonar, como aqueles velhos jogados na rua, sem direção, sem eira.

Meu coração mesmo batendo fracas, minhas pernas trêmulas, as dores nas minhas juntas, o meu medo de cair, mesmo assim, bem devagar caminhei até a sala, minha filha sorriu e veio ao meu encontro, eu tão sã tão certa da conversa, queria dizer da minha vontade de chorar, eu queria um pouco de prosa, esta é minha súbita memória declarativa.

E me joguei nos braços dela, era um conforto inabalável e neste momento veio em mim uma sensação gostosa e sabia que ela não era mais criança, não era um bebê pedindo colo e sim uma bela mulher de 35 anos, esta foi minha doce memória imediata.

Ficamos sentadas no sofá apreciando o programa que estava passando na TV e não consegui dizer absolutamente nada do que pretendia em pouco tempo antes, o programa era bom, me fez sorrir, me fez esquecer da nostalgia, do sentimento de solidão que abala em mim. Ainda nem sei direito se era solidão ou culpa, já não recordo.

- Está tudo bem mamãe?

Aquela melodiosa voz toma o ar, minha filha desejava saber se eu estava bem, desejava de mim uma resposta rápida e precisa, uma resposta a altura e eu sem entender direito, respondi que tinha gostado de usar aquele vestido rosa no domingo passado.

E ela continuou:

- Que vestido mamãe?

Aquela doce voz que entranhava em mim, que me envolvia, que me torturava...

Eu respondi:

- A igreja estava vazia na missa passada.

Este é o período de consolidação, minha memória de curto prazo, se inocente estou ainda não sei, tenho certeza que estou ficando idosa, sei que vou perder meu dedo de prosa.

Sei que ela ficou triste pelas respostas insignificativas, não sei se a ponho nos braços para ninar ou tento me explicar da conversa sem fundamento, nem lembro porque fiz.

No dia seguinte pela manhã, minha filha entrou no meu quarto, eu estava lendo um livro, estava estudando inglês, sempre quis saber deste idioma fantástico e nunca tive tempo, hoje tenho tempo livre e tudo está muito claro em minha cabeça. Ela achou estranho, não brigou comigo, nem me proibiu e eu pude ficar meses assim.

Esta memória de longo prazo, me sacrificou, edificou ou mudou algo em minha vida? Não sei.

Ainda tenho medo de falar que não me sinto bem, que me sinto diferente, é como se eu estivesse afastando de mim, eu mesma, não me reconhecendo, minha filha acha que estou ficando louca, mesmo assim, no sábado pedi que ela me levasse à pracinha para andar de bicicleta, esta é minha memória de procedimento, já que não tive coragem de conversar, resolvi pedalar, expulsar de mim as sensações ruins, me sentir um pouco livre, um tanto infantil.

Se minhas memórias explícitas, implícitas, de longo ou curto prazo falham o que sou?

O que serei?



CONTINUA...

Um comentário:

Josselene Marques disse...

Sulla:

Estou na expectativa do final...

Abraço.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...