Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Por Enton das neves... Deus Selvagem I O Adeus de Sylvia

A loucura tem um tato frio, seu toque congela a alma em seu âmago. As vozes não param de pronunciar palavras em meu ouvido, elas contam segredos antigos, elas falam de amores desvalidos, elas falam de coisas sem sentido.

O buraco abre-se no teto, de dentro dele sai um deus profano, selvagem, que começa a me devorar vivo. Ele sempre esteve perto de mim, assistiu o dia do meu parto. Carrega chagas nas palmas de suas mãos, ele sacia sua sede com a água liquefeita da minha alma humana.

Não sei dizer-te ao certo o que é real ou ficção, não consigo diferenciar a sombras dos meus amigos, dos vultos dos meus companheiros imaginários.

A paranóia agora é minha intima amiga, em cada esquina esta um inimigo a me perseguir, o inferno com seus demônios são meus agozes atormentadores.

Seria o fio cortante da navalha também uma mera ilusão?Seria o gosto incandescente do ácido descendo garganta adentro, uma mera visão?A dor cruciante sentida neste mundo seria o despertar para a lúcida razão?

A boca do forno esta aberta, as crianças dormem em seu quarto, a porta delas esta vendada, o gás não passará por ela, deixei leite nos copos, e pães fatiados sobre a bandeja, que comam a vontade assim que acordarem. Minha cabeça dentro do forno, o gás venenoso agora é este deus selvagem, que insiste comer-me vivo, saciando-se de minha carne, e matando a sua sede, bebendo da minha alma divinamente esquizofrênica.

Aqui tudo é divinamente lúcido, aqui tudo é divinamente real, aqui tudo na verdade não passa de uma doce loucura, aqui tudo não passa de um bonito sonho, de um despertar para uma manhã sem igual.

Sylvia, Sylvia, respiro este gás com você, Sylvia, Sylvia me leve agora com você.



O ANJO DAS LETRAS.

Prosa em tributo a Sylvia Plath.

3 comentários:

Josselene Marques disse...

Sulla:

Gostei deste escrito!
Seu blog é lindo! Parabéns!

Com certeza, voltarei muitas vezes.

Abraço.

Mario Rezende disse...

Você veio, adoçou a minha boca e se foi... Eu voltei a imaginar...
Que pena...
Matrio Rezende

Anônimo disse...

Loucuras de amor aquecem a alma e a vida!

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