Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Por Sulla Mino...Contos que conto...Bebel.com


Estava na sala de bate-papo mais uma vez. Bebel como gosta de ser chamada, seu estilo na Net é de maldades e malícias.
Bebel não se dá muito bem com a mãe e o pai quase não vê. A mãe uma dona de casa um tanto rude e o pai que vive atolado no trabalho e chega sempre em casa muito tarde da noite.
A madrugada é a fiel companhia da jovem, seus velhos amigos internautas e claro, o melhor horário para os encontros virtuais.
Tudo pronto. O melhor Baby Doll, as unhas grandes e vermelhas, o cabelo muito ruivo, cigarros, chocolates e um bom refri ao lado, 16 anos apenas e muita baixaria!
A partir de nove horas da noite começa todo um ritual de espera, como uma pesca, e quando é lançado o anzol, apenas aguarda a presa, ou melhor, o melhor peixe.
A mensagem de Bebel para os jovens é:
“Vou apoderar virtualmente das suas maldades” e assim seguia noite adentro a espera de algum safado de algum lugar qualquer.
Este é o comportamento de uma adolescente louca, sem tino algum. A mãe que vive quase sempre a base de remédios para depressão, sempre com a mesma dor de cabeça, sem diálogos, sem planos de vida, sem atenção alguma para a filha bastarda, ou quase isto.
O pai ambicioso com o trabalho e sinistro no semblante, sem tempo algum para acompanhar Isabel, sua doce menina sapeca ou simplesmente de notar a Bebel que havia dentro de casa.
De um mês para cá, nossa jovem estúpida e alucinada pela internet, bate papo com uma pessoa diferente. Ele não gosta de se mostrar, nem de ver com quem tecla. A partir das nove da noite, ele está sempre ON, ele digita palavras maldosas, cheias de malícias. Bebel se apaixonou por estas letras e códigos, por um homem sinistro, ela já se empolgava com apenas um click do teclado.
A nossa pervertida tentava envolver sua presa, tinha suas artimanhas e procedimentos, colocava sua CAM ligada e deixava fixa em uma parte de sua coxa ou mostrava apenas uma parte dos seios, partes desejadas do seu corpo, seu belo corpo primaveril.
Em sua cabeça, pensamentos erradios e severos, com um homem bonito ou feio, magro ou gordo, alto ou baixo...
Era assim, ninguém via ninguém, apenas sexo virtual, um tchau e mais nada. Este era o jeito deste homem cruel, tinha de ser assim, ou ela aceitava as regras ou ele imediatamente deletava.
Depois deste clima intenso, nossa bastarda vai tomar um belo banho gelado, para refrescar o corpo suado depois de um momento de pecado. Quando ela sai na ponta do pé para seu quarto, se esbarra com seu pai no corredor, isto umas 2 da amanhã, ele também na ponta do pé indo para quarto.
- Papai?
- Chegando agora do trabalho?
Bebel sem graça pronunciava estas palavras ao pai.
- Querida! Respondia o pai também um tanto sem graça.
- Papai anda muito atarefado no trabalho, vou me deitar nos falamos amanhã, sua mãe como está?
- Como sempre papai.
Bebel recebe um beijo do pai na testa e volta ao quarto. Esta foi por pouco, nossa jovem temeu uma visita do pai ao seu quarto, seu mundo sombrio.
Um mês passado, nossa sapeca resolve aceitar o convite do louco e carente homem, ela não se intimida e marca no centro da cidade, uma da manhã, no beco escuro e úmido, esquecido e isolado por todos.
Coloca a mini-saia da sorte e sua bota preta e sai de encontro ao homem de contagiantes códigos.
Lá, encostado na parede, já a espera da jovem, apenas a sombra de uma pessoa sinistra, Bebel se aproxima já se atirando para o homem para dar-lhe um beijo, e que belo beijo foi dado. E ali enquanto mãos deslizavam no corpo um do outro, o zíper aberto, a moça é atirada na parede, é afastada sua perna uma da outra, os movimentos dos corpos errantes acompanhavam os batimentos...
Uma voz ao ouvido de Bebel sussurra:
- “Você é melhor que virtual”.
Neste exato momento, Bebel afasta o homem de seu corpo, pedinte de sexo.
- Papai?
Apenas a luz amarelada do poste era a testemunha.


*Foto de Heraldo Cunha

3 comentários:

Josselene Marques disse...

Sulla:

Prendeu minha atenção do início até o final. Um desfecho surpreendente. Parabéns!

Abração e ótima semana.

Anônimo disse...

Uma triste realidade. E o que é pior, cada vez mais presente na vida das pessoas: sexo virtual. Muito bem retratado, Sulla. Infelizmente, um incesto.
Beijos!
Raí

EB disse...

Instigante. O anonimato da net às vezes surpreende. Parabéns. Gostei mto do seu jeito de ecrever. Voltarei sempre. Abraços.

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