Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Contos que conto...Na Casa

Onde eu estava naquele momento não sabia, estava em um lugar onde nunca fui e se fui algum dia não lembrava mais. Acho que é uma casa, muito grande, muito bela.

Eu estava lá, vestida num traje branco e comprido, estava bonita e muito maquiada, mas nada era meu, nada era familiar, senti-me lindamente vestida e completamente nua. Teria eu invadido uma casa alheia? Eu me perguntava mentalmente.

Eu não era eu e nada me dizia nada, o desespero começou a fazer parte de mim, naquele silêncio estúpido, naquele turbilhão de vazio no ar.

O gosto de fel se espalhava em minha boca, tentava cuspir e era inútil, eu tentava respirar fundo, tentava gritar, mesmo se fosse numa voz rouca e pouca, abafada e tudo era em vão. Estava louca varrida, trancada num cômodo qualquer.

Resolvi abrir a porta e ir além daquela prisão mental, tentar ir a lugar nenhum. A casa ainda era estranha, o corredor sombrio e velho. Meus passos eram incertos e rasteiros, eu não me dominava e não me entendia. Será um sonho? Um pesadelo na minha madrugada crua? Perguntas somente em minha mente doentia, meus passos curtos e vagarosos.

A casa era uma mansão incrível, muitas portas e eu sem saber onde é a saída ou a entrada para me tirar dali, daquele labirinto cruel e torturante.

Eu já não tinha tanto medo, apenas um pequeno pavor por não senti meu corpo, por me sentir caindo num penhasco negro no meio de uma floresta. Nada lembrava meu passado ou presente. Eu somente ali tentando sair daquele hospício oco, eu era um nada na imensidão de um corredor.

Abri desesperadamente meus olhos, nada havia diante de mim de concreto, apenas uma luz branca vinda de uma das portas. Estou aprisionada no meu desespero desmedido e incabível

Meus passos já eram mais largos naquele momento, eu não aguentava mais me rastejar feito cobra no deserto. Eu queria um oásis, uma resposta. Acho que tentava sair de mim mesma ou simplesmente desta casa maldita.

Avistei uma bela escadaria, com um corrimão enfeitado lindamente com flores campestres, fui descendo calmamente, degrau por degrau... Ouvi uma cantoria, uma melodiosa música, aquilo fazia bem aos meus ouvidos. Eu estava gelada e meu corpo já estava leve, eu me sentia plena, poderia voar, tive esta sensação ao ouvir aquela bela canção. Era um som de uma harpa acompanhada de um piano, fechei meus olhos, continuei caminhando no embalo daquelas notas, aquela canção eu conhecia, lembrei-me num instante quem eu era e onde eu estava.

Eu sou eu mesma e aquela era a minha casa...

O clarão ofuscou meus olhos, em alguns segundos ele foi diminuindo e pude ver muitos convidados na sala, os homens de terno preto e as mulheres lindamente vestidas em seus trajes de gala. Caminhei entre eles e aproximei-me do caixão próximo a janela.

Eu estava sorrindo...

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