Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Contos que conto por Sulla Mino...O Paraíso de Eny

O cenário que falo é de uma casa, feito casinha de bonecas, seu telhado alaranjado, as portas e janelas num tom fraco de azul, no chão da varanda quadradinhos de cerâmicas, a escada da frente num tom cinza e mais forte a cor de cinza no corrimão.

A árvore da frente com flores perfumadas e amarelas, muitos galhos e folhas soltas pelo chão, tudo no compasso, acompanhando o vento brando e gostoso da manhã.

O riacho no transparente e límpido de sua água, seus peixinhos coloridos nadando de um lado para o outro.

A pequena ponte fazia o trajeto deste jardim até o outro lado, próximo as bananeiras e as flores arroxeadas; a cor da ponte vermelha, deixando este cenário ainda mais belo.

Umas pedras ao lado do riacho, eram como bancos e todos os dias, nos fins de tardes, Eny sentava e ficava a pensar, a desejar um outro lugar fora deste paraíso.

Eny é uma jovem moça, bela, seu cabelo como o amarelo do sol, usava uma trança comprida, caminhava por ali, sempre descalça e suas mãos eram sujas de terra, ela plantava todos os dias e cultivava cuidadosamente tudo de bonito de havia ali.

É uma jovem solitária... Desde o seu levantar ao deitar, desde o café da manhã ao jantar.

Todas as tardes ela está junto estas pedras no riacho, ouvindo ao longe, vozes, ruídos, pequenos barulhos que não consegue distinguir. Eram vozes de crianças, diálogos de adultos, passos, correria, Eny não via nada, nem ninguém...

- Crianças não mexam aí!

Esta frase gritava em seu ouvido.

Eny se sentia olhada e desejada, parecia que alguém acariciava seu cabelo, sentia também um beijo em seu rosto.

E longe, muito longe, uma voz se despedia...

- Até amanhã Eny...

E Eny voltava pra casa, confusa e carente...

Nunca entendera o porquê daquele lugar tão bonito só pra ela.

Tentou muitas vezes ir além daquele cenário, na trilha atrás da casa, na rua de barro do outro lado da cerca, em vão...

Estava presa num mundo florido e perfumado e sua solidão a companhia constante e cruel.

Será que alguém um dia irá socorrê-la?

Eny não lembra como chegou neste fechado e estranho lugar.

Todos os dias iguais e quando a noite chega, um clarão reflete na água do riacho, como uma espécie de lua e a sombra da jovem repousa neste belo alvorecer.

Enquanto isto, Jack, um moço robusto e atraente, com seu uniforme aberto na parte da frente mostrando o peito, boné virado para trás, um balde na mão e uma vassoura na outra, entra assoviando na “Sala de Artes” do “Museu Ludy”, limpa a poeira, ajeita o refletor para o quadro principal da sala, acaricia o cabelo da jovem sentada próxima ao riacho, desejando em pensamento estar ao lado da bela jovem naquele quadro, entrega-lhe um beijo no rosto e diz:

- “Até amanhã Eny”.

“O Paraíso de Eny”, a tela mais visitada do museu.

3 comentários:

Arnoldo Pimentel disse...

Parabéns pelo conto, muito bem elaborado e conduzido,beijos.

Anônimo disse...

Um conto feito pintura. Sulla, o desenho desse quadro onde as cores predominam são os argumentos principais para que a mocinha se encante com o lugar mágico em que vive. De certo, o toque poético que abrilhantou a moldura e deu-lhe traços finos em rabiscos cheios de mágica e fantasia. Talvez haja um museu assim, com quadros assim, com Enys e moços de camisas abertas no peito...
Beijos!
Raí

Josselene Marques disse...

Sulla:

Lindo conto - só para variar... (rsrs)
Falando sério, é sempre um prazer ler os seus escritos criativos e enriquecedores. Blog nota mil!!!
Abração.

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