Estive
pensando nestes dias sobre canalhas. E também por coincidência
passou um canalha em minha vida. Um não, vários! Como passa na vida
de qualquer um, todo dia. Canalha, uma pessoa sem moral e
verdadeiramente um patife. Canalha também é o rótulo que a
sociedade dá ao homem que procura a mulher com finalidades outras
que não os compromissos socioconjugais (namoro, casamento). Sedutor,
possui habilidade para relaxar suas parceiras a ponto delas se
sentirem desejadas por um homem que conhece a alma feminina e suas
fragilidades.
O canalha aparece quando a mulher deixa de se sentir
especial pelo homem em questão. Tenho procurado uma definição para
tal palavra e se poderia, de alguma forma, mudar este rótulo. Creio
que não há! Desde que o indivíduo foi tachado por estas piores
qualidades, não tem muito o que fazer mesmo. Adorei o texto do
jornalista Chico Garcia, que dizia: O canalha não tem jeito mesmo. E
nunca terá. Ele é o sociopata do amor. Inspira confiança e expira
mentiras. E você, na falta de algo melhor, vai respirando esse ar
sedutor. No alto dos seus 1,70m de mulher independente, forte e
sedutora, você sempre acha que pode consertá-lo. Esqueça, você
está apaixonada e o antídoto para o canalha é o desprezo. O
canalha finge que não é um canalha. Posa de bom moço, carente,
apaixonado e infeliz.
E você acredita ser a salvação dessa alma
perdida, depois de tantas desilusões amorosas. O canalha cria uma
nova identidade, mas sem registro em cartório. Ele age por instinto,
não sabe ser de outra forma. A sedução faz parte da sua
sobrevivência emocional. Ele é uma fera e você o prato de comida.
Mas ele tem um jeitinho tão meigo, uma conversa tão bacana, não é
mesmo? O canalha é inteligente, sagaz, enigmático e te faz rir.
Pronto, o cara perfeito. O único porém é que ele nunca será
completamente seu. Amar um canalha é entrega sem devolução. A
submissão é ingrata: revolta, mas apaixona. O canalha é o disfarce
da conquista, máscara do engano. E é justamente isso que te encanta
nele.
Ele sorri em versos, fala em melodia e te decifra com os olhos.
O canalha parece ter o manual de instruções para seduzir. E faz
isso sem nenhuma força. Você consegue ver sensualidade nele
caminhando na rua, tomando whisky, acendendo um cigarro e até
dirigindo. O canalha nem bonito é, mas parece ter nascido para
desafiar o seu bom gosto. Ele faz você escutar músicas que você
nem sabia que existiam, faz você pesquisar textos e frases que
traduzam o que você está sentindo. Faz você acordar de manhã e
lembrar dele, pelo menos, na hora de passar o perfume. O canalha não
pede, manda. Você adora e depois se odeia. Tenta escapar e horas
depois, cai numa armadilha. Mas não fique triste, o canalha é o
"test drive" para qualquer corrida amorosa. É
pré-requisito para as provas de amor.
Toda mulher precisa de um bom
e cruel canalha no seu caminho para encontrar o próprio valor.
Somente depois de alguns meses mendigando atenção e se alimentando
de mentiras cobertas por uma camada de ilusão, que você vai
encontrar a correspondência do seu amor. Não nele, claro. Mas antes
do coração achar o endereço certo para se apaixonar, é preciso
primeiro ter garantias. É a conquista do chamado amor próprio. Amar
um canalha faz parte da vida, é a construção de si mesma, leitura
obrigatória para o vestibular sentimental que vem pela frente. Estar
com um canalha é mais do que necessário. É gostoso". Vivemos
a "Era Canalha", a verdade é esta. Não podemos rotular
apenas os homens casados, e sim a sociedade, o mundo. E existem
muitos tipos de canalhas.
Por Bezerra da Silva: " Canalha, tu é
um verdadeiro canalha. Rapinou o dinheiro do povo, Saiu esbanjando. E
fazendo bandalha". Música dos Titãs: Não tarda nem
falha. Apenas te espera. Num campo de batalha. É um grito que se
espalha. É uma dor. É uma dor canalha. Que te dilacera. É um grito
que se espalha. Também pudera. Canalha! No livro de crônicas do
escritor gaúcho Fabrício Carpinejar, ele mostra que o canalha
mantém seu charme sexual.
Interessantes frases: "Quando eu
penso que já conheci todos os babacas e canalhas do mundo, percebo
que a espécie é infinita". "E há mulheres tão canalhas
que deveriam ter nascido homens". E termino contemplando Millôr
Fernandes : "Se você agir sempre com dignidade, pode não
melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá na Terra um canalha
a menos".
Mas será que a culpa é realmente inteira do canalha?
Ele pode escolher o tipo que quer ser. E quando está completamente
inteiro, pode ser você ou... Eu.
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