Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Crônica Por sulla Mino...FRAGMENTOS


Esta voz dentro de mim, esta voz que cala minha boca. Tento, tento dizer simples palavras vãs, algumas letras soltas e confortáveis ao meu peito, neste imenso desamor. Poetizar-me, também já tentei. Talvez haja um escape, uma fuga repentina no meio da noite em meio aos estilhaços de vidros no chão.

Não, não serei tão covarde, tentarei, talvez, gritar muito alto, um aviso ao meu coração carente e em seguida me atirar do terraço. Estou certa que serei eu mesma em algum outro lugar, em algum caminho que não seja tão gótico, tão árduo assim.

Talvez eu seja um pouco louca, insana e certamente lá, onde talvez exista um vasto campo, serei livre, livre desta voz que costura minh’alma. Por enquanto estou em fragmentos, nestes cacos poéticos e errantes, pelo menos até o cair da noite, onde visto meu corpo com a capa da ilusão, só assim sigo mais um dia, termino mais um dia, mais um dia na minha busca insaciável por sangue, sangue fresco, de um animal perdido pelo caminho ou até mesmo de alguém, desses casais que param seus carros no alto do mirante, estes jovens que ousam esfregar seus corpos nus sob a luz da lua A lua, hoje ela está cheia, talvez de mim, dos meus lamentos, dos meus intensos pedidos de socorro, socorro que nunca chega, sei que é tarde, minhas entranhas já são amargas.

Estou ainda aqui, presa entre o ontem e o hoje, entre a vida e a morte, presa em mim, nestes argumentos inúteis, neste esquelético corpo virgem, estou ainda aqui, no silêncio da madrugada fitando a lua que ainda alerta brilha no céu, cortando-me interiormente.

Continuo aqui, marcada no alento, tento sair deste abismo incerto, ainda amanheço aqui, miúda. Não, não sei se eu estendo-me no chão ou me abraço nestas paredes invisíveis. Estou feito um vampiro que perambula por aí, ou quem sabe uma alma qualquer a procura de possíveis cadáveres para saciar a fome.

Não, não sei quem sou, apenas restam estes fragmentos poéticos em minha corrente e por fora, esta pele em desuso. Cato-me, revirando meus absurdos, meus cacos ásperos e sem pontas cortantes. E esta voz que aqui ainda dentro de mim, torturando-me, estes ecos atordoantes nas lacunas do meu pensamento, esta voz que não cessa, que não clama um fim, que pune uma parte de mim, esta parte torta e funesta e a outra parte, uma outra pouca parte, uma parte poetaço, ainda longe de Camões, perdida aqui no âmago do mundo ou quem sabe no inferno, nem mais sei, sei que estou aqui, débil com o pouco que ainda me resta, na indolência desta manhã de sol, tecendo-me, aos poucos.

*Imagem Google

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu fico, aqui, pensando... O poeta exala para o mundo o seu mais íntimo pensar. Às vezes ele se sente tão a vontade que nos faz co-autores de sua imaginação. Nesta crônica, a poeta desfila os mais antagônicos desejos e discorre sobre eles como se estivesse apenas na sacada do seu apartamento. Ela, a autora, nem imagina o quanto, quem a lê, devaneia, procura, encontra e, se possível, inventa modos de também interagir com a sua obra. Aliás, muito bem feita. E instigante. Parabéns!
Abraço,s
Raí

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