Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Contos que conto...Kapytuchekin.

Virna caminha próximo ao lago Nuli na quadra da sua casa. Era uma manhã fria, típica de outono, notava-se as muitas folhas soltas na grama do parque, o vento gelado e brando soprando no rosto.

Nossa personagem passeia totalmente concentrada naquele momento, analisando a folhagem caindo ao chão, o movimento tranquilo da água no lago, as crianças correndo atrás da bola, umas no balanço, cachorro brincando com o seu dono, tudo num verdadeiro compasso.

Virna se aconchega num banco embaixo de uma bela e grande árvore e se pos a ler o livro que levara, “Amor Proibido” seu título e ficou ali, folheando as páginas amareladas do romance. E foi um bom tempo de leitura e tranquilidade.

Lembrou um tempo depois, de um objeto que estava em seu bolso, que tinha encontrado no chão assim que adentrou no parque. Era uma minúscula caixinha de música. A curiosidade foi tanta que não esperou mais tempo e ao abrir a caixa, havia uma linda bailarina e um sensor para dar corda e iniciar uma música.

Ela não sabia se terminava de ler a parte mais interessante de seu livro ou se ouvia a canção da caixa. Então, encostou o livro no canto do banco e se pos a apreciar o objeto, deslizando seus dedos nos relevos dos detalhes esculpidos nela, deu a corda para ouvir a canção. Era uma voz doce e suave, uma melodiosa valsa, um turbilhão de magia envolvia seu corpo, um ciclone cinza e mágico, num passe de fantasia Virna estava no mundo dos sonhos, onde tudo era colorido, cada detalhe pintado à mão.

- O que fazes aqui linda jovem?

Uma árvore de folhas transparentes e um caule cintilante, a voz aguda, de uma criança de quatro anos, tentava envolver Virna com perguntas.

- Sim, você que olha pra mim, que fazes aqui?

- Eu não sei D. árvore, eu só estava ouvindo uma valsa da caixinha.

- Não poderá voltar, você sabia disto?

- Voltar? Ao parque?

- Não mocinha... Para a realidade querida, você agora faz parte do nosso mundo e sua voz será a próxima na música da caixa mágica.

- Não posso ficar, tem muita coisa importante lá fora que preciso fazer, lugares para ir, sonhos e um livro para terminar de ler.

A árvore foi desaparecendo de sua frente, feito vulcão em erupção, um clarão tomou o corpo da jovem dali e cuspiu-a em outra parte daquele mundo, já não era tão colorido, era tudo em barro, um barro vermelho purpurinado. E ela ficou ali, rodando o olhar em tudo e não encontrava nada, somente vales, morros e montanhas de barro.

Sentou-se desorientada e sofrida, o choro tomou o rosto, ela se agarrava a caixa num desespero frustrante, uma gota de sua lágrima fez acender na caixa uma palavra em amarelo “Kapytuchekin”... Ela gritava aquela palavra dentro de si... Kapytuchekin depois em voz alta... Kapytuchekin, os ecos atordoadores...

- Senhorita? O parque já vai fechar.

Virna havia caído num sono profundo e a caixa era somente um objeto infantil perdido no parque.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adoro essa metáforas! Unir o real ao sonho, deixando lacunas para uma interpretação, é notável. Quem sabe se Dona árvore não seja apenas uma forma de tentar viajar de volta para o passado e lá se encontrar com o seu futuro? ou, se por acaso, o sonho da fantasia, através do som de uma voz infantil não seja apenas o som de uma criança que quis ser adulta antes do tempo e agora a escuta para tentar voltar a ser o que todos nós queremos. E o parque? Casa, colégios,enfim, ler suas crônicas é uma aula de reflexão.
Abraço,s
Raí

Anônimo disse...

Aula de reflexão??? Raí, obrigada caro amigo poeta,pelas belas palavras, como sempre, eu o estimo e o admiro, onde quer que eu vá!! Bjks, Sulla

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