Tenho sede, uma absurda vontade de goles grandes de palavras "malditas" (...)

Crônica por Sulla Mino ... Anjo


Ele está agora preso em outra dimensão, talvez em alguma dimensão colorida, preto e branco, pode ser até num tom de cinza, não sei, o que sei é que ele se foi, sem se despedir, sem palavras, sem olhar para trás.

Ele era meu amigo, meu grande amigo e sinto sua falta agora, falta da festa que fazia quando eu chegava do trabalho. Anjo era seu nome, de significado religioso, cheio de energia, sempre pronto a se lançar em alguma aventura e realmente ele era assim.

Não posso ficar tanto tempo assim me lamentando, choramingando pelos cantos da casa, Anjo já não está aqui para me confortar, me beijar lindamente como fazia. Meu corpo caminha para o trabalho todas as manhãs ainda como um cadáver vivo, vivo meus dias como zumbi perdido na grande cidade.

Ouço tambores, simples ruídos na minha madrugada estúpida e parece que meu coração vai saltar do peito e correr à lua. Disfarço o sorrido diante dos familiares, fico fora de mim e fingir tem sido minha melhor mania. Ameaço-me vagar por aí, sem pele e imperfeita, pelo menos dar uma volta no quarteirão, já aliviaria minha dor aguda. Eu seria capaz de esquecer meu próprio amante e me atirar numa saudade desmedida?

Mais um dia em frente ao espelho, tento ver minhas marcas sofridas e não consigo, Anjo me atormenta, de alguma maneira ele não quer me deixar. Apago a luz do quarto para fazer alguma diferença e a mesma coisa vejo, coisa alguma. O meu suor ainda é o sinal da saudade, escondo o drink para não almejar minha fraqueza infantil.

O abismo no final da cidade me pertence, penso nele instantes em instante, Anjo me aguarda no fundo dele. Meus momentos tinham sabor ao lado dele, o meu rebolado nos passeios pelas calçadas eram bonitos, também quero partir.

Dentro de mim, o difícil acesso em aceitar a partida, em deixar as coisas tomarem seu rumo, o percurso da vida, esse difícil degrau que me desequilibra. Penso nele todo instante e sei que com o passar do tempo vou conseguir me desprender, hoje ele é só um anjo que aprece pra mim, nos meus momentos de solidão, ele sempre será meu querubim e talvez um dia eu compreenda esta força extraordinária entre animal e ser humano.

E os doces momentos de diversão que tivemos serão bem guardados e a fotografia instantânea será muito bem lembrada. Não preciso ir, posso ficar e viver de memórias.



2 comentários:

Josselene Marques disse...

Sulla;

Sábia decisão:" Não preciso ir, posso ficar e viver de memórias."
E assim é a vida, amiga. Por isso, "é preciso saber viver", como diz o rei Roberto Carlos.
O melhor para você!
Abraço.

Anônimo disse...

Lançaste bem a metáfora: "anjo". Talvez os dias voltem, de repente a ter novo anjo, novos anjos - metaforicamente.
Abraço,s
Raí

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